O Commons do Conhecimento

Uma das minhas linhas de exploração na busca de um tema de doutorado envolve o estudo de sistemas colaborativos cujo objetivo é a construção de conhecimento. Caso lhe interesse, um dos principais termos usados na literatura da área é o "User Generated Content (UGC) Systems". Em breve devo descrever meus primeiros resultados estudando dados do StackExchange, mas neste post quero falar um pouco de uma parte importante desta área, que a interseção com os modelos econômicos, mais especificamente: O Commons.

Talvez a coisa mais próxima do grande público que envolva o conceito de commons (termo sem tradução) é o Creative Commons, uma licença para distribuição de conteúdo aberto/livre. Rasamente, entende-se por commons um recurso possuído e compartilhado por uma comunidade, como por exemplo o ar, ou peixes em um rio. A verdade é que tive pouco contato com o conceito, mas acredito que estou começando pelas referências corretas. Charlotte Hess e Elinor Ostrom compilaram este livro em 2006: Understanding Knowledge as a Commons. Elinor Ostrom por sinal ganhou o Nobel de Economia exatamente pela sua contribuição nos commons.

Como li apenas o primeiro capítulo do livro citado, vou usar alguns posts neste blog para fazer anotações sobre conceitos importantes. Neste primeiro capítulo os principais pontos para o entendimento da área são esclarecidos, o que pode ajudar novatos como eu. Segue uma lista dos que consegui destacar:
  • Na década de 1990 começaram a surgir trabalhos que mapeavam o arcabouço dos commons clássicos para situações emergentes no universo digital, como por exemplo na web.
  • Potenciais problemas no uso, governança e sustentabilidade de commons podem ser causados pelo comportamento humano que leva a dilemas sociais, tais como: competição, aproveitamento,  e exploração excessiva.
  • Ameaças típicas aos commons do conhecimento são: 
    • mercantilização ou fechamento (vide a discussão sobre artigos científicos), 
    • poluição e degradação (será que um exemplo seria a própria web/Internet? Parece que sim),
    • não sustentabilidade.
  • A análise de commons fatalmente recai na avaliação de sua: equidade, eficiência e sustentabilidade.
  • Um dos resultados mais importantes no estudo clássico dos commons é a descrição de oito fatores fortemente correlacionados com o sucesso dos mesmos:
    • fronteiras bem definidas
    • regras de acordo com as necessidades locais
    • indivíduos participam na modificação das regras
    • autoridades externas respeitam regras do grupo
    • membros se auto-monitoram
    • sistema gradativo de punições
    • mecanismos de baixo custo para resolução de conflitos
    • estrutura organizacional aninhada com múltiplas camadas de atividade.
  • Novas tecnologias podem influenciar muito da robustez e vulnerabilidade de commons, como por exemplo, aumentando da possibilidade de enclausuramento do que antes era livre e aberto.
  • Confusões a respeito dos Commons do conhecimento:
    • o acesso aberto à commons clássicos (ex.: terra, água) possui uma realidade completamente diferente do acesso aberto à informação. (Ex.: O consumo do primeiro subtrai do montante enquanto  no segundo caso não.)
    • commons não é sinônimo de acesso aberto nem possui uma definição prévia de bom ou ruim, o resultado da interação da comunidade é que pode ser sustentável ou não.
 É isso. Em algum momento futuro espero postar os próximos capítulos.

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